Breviário UFPR: Platão, Livro I da República
Olá gente boa,
Fui acometido por um quadro viral que me incapacitou ao longo da semana passada. Espero que tenha sido possível realizarem a leitura da folha de citação dos cinco textos, que disponibilizarei na próxima postagem.
Aqui, gostaria de compartilhar com vocês resumos que, tenha sido escrito por mim ou por outrem (como o caso do Montaigne), podem ajudar vocês a entrarem na vibe, de cada texto. Por vibe, entenda-se: o espírito do texto, sua natureza, essência e características próprias que são o efeito da leitura de sua letra escrita.
PLATÃO
Livro I da República
A investigação da justiça é um assunto sério e com consequências nas ações dos homens. O livro I da República de Platão introduz os diversos aspectos que envolvem o problema da justiça. A moral vigente na sociedade grega dependia dos mitos e ritos da religiosidade grega, Palas Atena era deusa da Justiça, a cultura pré-filosofica era tradicionalista, e a moralidade de um relativismo individualista cuja sedimentação social foi o efeito dos sofistas.
Céfalo, Polemarco e Trasímaco são os interlocutores de Sócrates no diálogo do livro I da República de Platão, que visa distanciar a essência da justiça das concepções gregas vigentes, da retórica persuasiva dos sofistas e da coerção da doxa (opinião).
É o dito moral, prosaico e ingênuo da justiça como “não ludibriar ninguém, nem mentir, nem ficar a dever aos deuses e aos homens” (331 a-b, adaptado), que Céfalo inicia o problema da justiça.
Polemarco , por sua vez, amplia as palavras do pai dizendo ser justo dar a cada um o que lhe é devido, aos amigos o bem, aos inimigos o mal.
Por fim, na última parte do diálogo, a teoria do mais forte de Trasímaco torna a justiça uma mera vantagem daquele que governa, dirige e controla.
Sócrates, contudo, anseia pela verdadeira justiça. É a altíssima exigência da verdade verdadeira da justiça que move seu espírito. Contudo, o Livro I tomado isoladamente é aporético, inconclusivo, isso significa que ele termina em uma rua-sem-saída, na perplexidade irritada de Trasímaco e na falta de uma resposta definitiva para a pergunta "O que é a justiça?".
Afinal, Sócrates precisou desemaranhar o conceito de justiça, para saber se ela é vício e ignorância ou sabedoria e virtude, para também saber se ela é mais ou menos vantajosa que a injustiça. Para tanto, Sócrates admite, ao final do texto, precisar saber o que ela é, em si, sua ideia/forma, na sua mais alta exigência, para então saber se é ou não uma virtude da alma, se quem a possui é feliz ou desgraçado.
O método argumentativo socrático do Livro I, após o processo dialético de cercar e se aproximar pelos flancos da verdade através da destruição do falso conhecimento de Céfalo, Polemarco e Trasímaco, para enfim conquistar a abertura do pensamento, esbarra na altíssima exigência da verdade, que os livros seguintes da República tentarão sanar. Exigência esta que, ademais, é o nexo de toda filosofia platônica.
Uma coisa se mantém, do livro I aos restantes: a justiça
se dá na relação entre o indivíduo e a cidade. A discussão iniciada no início
do livro I nos termos de uma discórdia e dissonância de uma sociedade injusta abre
espaço para a concórdia e harmonia de uma sociedade justa, da República ideal
(kallipolis: a bela cidade).
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