[ENEM] Paradoxos, de Zenão a diante


Ilustração de Gustave Doré para Pantagruel e Gargântua, de François Rabelais. Capítulo 19, Como Panurgo deu um quinau no inglês, que argumentava por sinais. Nele, Panurgo, companheiro do gigantesco e colossal Pantagruel, argumenta filosoficamente contra um inglês por meio de sinais. Lemos: "Panurgo, em nada espantado, levou ao ar sua trismegista braguilha com a esquerda e com a destra pegou uma lasca de costela bovina branca e dois pedaços de madeira de formado parecido, um de ébano negro, outro de pau-brasil encarnado, e os colocou nos dedos da mesma mão com toda simetria e, enquanto batia, fez um som igual ao dos leprosos da Bretanha com suas matracas, porém ressoando melhor e com mais harmonia; e com língua contraída dentro da boca zumbia alegremente, sem parar de encarar o inglês. Os teólogos, médicos e cirurgiões presentes pensaram que por este sinal se inferia que o inglês era leproso. Os conselheiros, juristas e canônicos pensavam que assim se podia concluir que algum tipo de felicidade humana consistia no estado da lepra, como antes havia afirmado o Senhor."


Pessoal, havia falado brevemente do paradoxo de Zenão, conhecidos também como paradoxos do movimento. Existem algumas versões dele, vocês podem ler duas delas nos slides.


Mas coloquei no quadro, em algumas turmas, uma outra frase paradoxal. Gostaria de deixar ela registrada. Acho importante mencionar que ela não é um paradoxo do movimento. Não é também uma contradição entre uma verdade eterna (geometria, o Ser) e a realidade sensível (não-ser, devir). É uma contradição lógica sobre a verdade de uma proposição. Mas queria deixar aqui registrado caso queiram ler, ele se chama o paradoxo do mentiroso:

"Eu minto" é verdadeiro ou falso?
Se for verdadeiro que minto, isso é falso, ou seja, o que digo é falso, pois minto.
Se for falso que minto, isso é verdadeiro, ou seja, o que digo é verdadeiro, pois é verdade que estou mentindo.

Significa então que uma proposição (termo filosófico para uma oração com pretensão de verdade) não é ou verdadeira ou falsa (princípio lógico da não-contradição), podendo ser falsa e verdadeira ao mesmo tempo (o que é um absurdo, em certo sentido).

Uma solução do estoicismo pra essa frase é determinar (lembram desse nome? por ou mostrar limites à) a mentira no sujeito, e não na frase:

Eu minto.
Se tu mentes, tu mentes.
Se tu não mentes, tu mentes (dizendo que mentes)
Ora, tu mentes e tu não mentes (é esta tua pretensão)
Logo, tu mentes.

O que Crisipo, o estoico, aqui faz é determinar a realidade do sujeito mentiroso, e não da frase. O que ele faz é determinar o sentido da frase, como referindo-se ao sujeito que a enuncia, e não à proposição enunciada.

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