[ENEM] Racionalismo: princípios a priori e fundamento

Neo acorda da Matrix (alucinação coletiva artificialmente produzida por meio de estímulos eletrônicos) e nota a realidade material, a produção corporal da realidade socialmente convencionada e eletronicamente produzida na Matrix. Nela, o pensamento puro se regozija com diversas sensações simuladas, enquanto o corpo repousa dormente nesses tubos cilíndricos embebidos de geléias rosas viscosas e penetrado por eletrodos na medula humana. Cena de Matrix, 1999.


Olá gente boa,

Como venho mencionado em sala de aula, os racionalistas produzem seus sistemas filosóficos a partir de verdades fundamentais e, seguindo uma lógica inferencial, encontram verdades por meio da dedução.

Gostaria de deixar aqui com vocês um exemplo de procedimento racionalista. No caso, o uma parte do livro Princípios da filosofia cartesiana de Bento Espinosa. Aqui, o Espinosa faz uso do modo geométrico de demonstração racional. O filósofo adorava a maneira que os geômetras provavam as verdades espaciais, de pontos a linhas a triângulos e suas relações angulares. E aqui, ele replica o método  geométrico para demonstrar os princípios da filosofia cartesiana. Olhem só:

Definição 1: Pelo nome de pensamento tomo tudo o que está em nós e de que somos imediatamente conscientes.

Definição 2: Pelo nome de ideia entendo aquela forma de qualquer pensamento por cuja percepção imediata sou consciente desse mesmo pensamento.

Definição 3: Por realidade objetiva entendo a entidade da coisa representada pela ideia enquanto está na ideia.

[...]

Definição 5: Toda coisa [...] pela qual existe o que percebemos [...] chama-se substância.

Definição 6: A substância em que o pensamento está imediatamente chama-se mente.

Definição 7: A substância que é sujeito imediato da extensão [...] chama-se corpo.

Definição 8: A substância que entendemos ser por si sumamente perfeita, [...] chama-se Deus.

[...]

Após construir as definições, as verdades fundamentais de Descartes (omiti algumas), Espinosa apresenta axiomas (verdades incontestáveis) como a II. Dão se razões que nos fazem duvidar da existência do corpo, para posteriormente demonstrar algumas proposições:

Proposição 1: De coisa alguma podemos estar absolutamente certos enquanto não sabemos que existimos.

Demonstração: Esta proposição é óbvia por si, pois quem não sabe que existe, simultaneamente não sabe que está afirmando ou negando algo, isto é, que certamente afirma ou nega.

Proposição 2: Eu existo deve ser conhecido por si.

[demonstração omitida]

Proposição 4: Eu existo não pode ser o primeiro conhecimento senão enquanto pensamos.

Demonstração: Este enunciado: eu sou uma coisa corpórea ou que consta de corpo, não é o primeiro conhecido; [...]

Corolário: [...] [A] mente, ou seja, a coisa pensante, é mais conhecida que o corpo.

Estou omitindo algumas proposições e axiomas, mas gostaria de frisar com vocês o ponto mais importante para o cartesianismo: o pensamento, ou seja, que sou uma coisa que pensa, é a verdade fundamental. Somos, para Descartes, antes de corpo, pensamento. Quando nos olhamos no espelho, vemos uma verdade secundária, posterior ao pensamento, a saber, vemos a verdade do corpo. Somos antes espírito do que corpos.


 

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